Meus Caros,
À convite da Diretora Capitã Keydna, fomos participar de um evento na Casa de Privação Provisória de Liberdade II (CPPL II). Inclusive, houve uma reportagem do Diário do Nordeste - que ainda saíra de promessas de publicação - a respeito do Projeto Renascer que busca a evangelização dos internos daquela unidade. Fomos, ainda, com o propósito de acertarmos como o Projeto Fazer Direito poderia participar das atividades dos presos dali. Eu, Géssyca e Samuel (o Pedro não pode ir), chegamos ao local às 9:00 horas da manhã.
Aguardamos um pouco e entramos na sala da Direção. Combinamos que antes de conversar, iríamos conhecer a unidade. Entramos como de costume: sem celular, pen drive e chave. Confesso que estava acostumada com a estrutura do IPPOO II, já que visito, rotineiramente, o local a mais de um ano. No IPPOO II, há uma média de 550 presos, com variáveis nesse número. Afinal, todos os dias, entram alguns e outros saem. Já na CPPL II, há o dobro. Como o próprio nome sugere, está destinada aos presos provisórios, mas pode-se encontrar um número considerável de condenados. O número é de 1.000 internos, mais ou menos. E a estrutura é, pode-se dizer, inferior. Com o dobro de internos, tem-se a metade da estrutura. Digo de forma simplória, mas que reconheci logo que adentramos no local.
Conversamos com eles e falamos sobre o Projeto Fazer Direito. Dissemos que pretendíamos iniciar as aulas lá. Recebemos, em resposta, muito carinho. É o que sempre recebemos. Eles são homens que infligiram a Lei, mas nunca deixarão de ser GENTE. Não nos engoliram, não avançaram! Eles já estão pagando pelos erros passados, mas que isso seja da forma em que a própria Lei determina. Não é para cumprir a Lei? Então que ela seja cumprida!
Depois de explicarmos como eram as nossas atividades, entramos em uma cela na qual estava um preso que eu já conhecia: o Hamurábi (cito seu nome porque o mesmo permite). Homem inteligente, de boa oratória, de vocabulário rebuscado, de raciocínio incrível. Eu o conheci do IPPOO II, mas fora transferido para a CPPL II a alguns meses. Ele tem quase completo o ensino médio, mas fala muito melhor do que muita gente formada, inclusive da minha área! Como dizia, estávamos na cela e conversávamos. Éramos nós três estudantes e uns cinco ou seis internos.
Foi quando chegou a quentinha do almoço. Eles se entreolharam e disseram: “Hoje é buchada, não vamos almoçar!” Eu olhei para eles e disse: “Não acredito! Vão estragar comida!” Aí, eles responderam: ” Rosa, isso é horrível.” Na hora, eu pensei que era exagero deles. Que podia não ser a melhor comida do mundo, mas é que deveria ser ao menos, comestível. Afinal, era comida! Eu disse: “Então, quero ver, passa essa quentinha pra cá. Me dá uma colher, que eu vou ver se isso é tão ruim mesmo. “A reação deles foi inesquecível, assim como a minha depois. Os presos que estavam ali olhavam pra mim, como quem não acreditava no que estava vendo. Eles ainda me advertiram, disseram que eu não deveria comer. Eu, sinceramente, queria sentir aquilo. Queria sentir uma milésima parte do que eles viviam. Porque só assim, penso eu, posso entender o mundo deles e tirar as minhas conclusões.
Eu comi. E como podem ver na foto, foi de longe a PIOR coisa que eu já comi na minha vida. Eu não sou fresca para comer. Como em restaurante caído, se me chamarem. Mas não tem como explicar como aquilo estava horrível. Eu nem como carne, por opção, mas pelos motivos que já falei, queria provar aquela buchada. Estava gosmenta, e se misturava com o arroz e o feijão…não havia como comer nada daquela quentinha sem a nojenta buchada! Vou parar por aqui. Para que vocês não fiquem enjoados e parem de ler o nosso blog.
Depois do “lanche”, (eca!) conversamos com a Capitã Keydna e acertamos tudo. Ficaríamos indo como fazemos no IPPOO II: 4 vezes por semana, uma hora de aula por dia. Assim, um de nós vai uma vez por semana.
Agora, estamos aguardando o material escolar chegar na unidade, para iniciarmos mais aulas!
Comentem! Deem suas opiniões.
Obrigada, mais uma vez.
Rosa Pinheiro
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