terça-feira, 5 de abril de 2011

A homofobia discutida por presos.

Estou, agora, escrevendo no Centro de Convivência da UNIFOR. Para quem não conhece a universidade, eu estou em uma espécie de praça de alimentação. Ministrei aula hoje a tarde, no horário de sempre (13:30 às 15:00), sobre um tema difícil de se abordar em qualquer lugar.

Quanto mais, imaginem, em um estabelecimento prisional. Falo assim pela constatação sobre o que vi e ouvi durante as minhas visitas periódicas aos estabelecimentos prisionais. Ou andando na rua, em um shopping, no elevador, em casa... O cearense é machista e não tolera em hipótese nenhuma a homossexualidade. É uma cultura! É fato! Não seria diferente, assim, em um local onde temos HOMENS CEARENSES.

Fizemos uma simulação sobre o caso de haver um casamento homossexual entre eu e uma mulher. Como eles lidariam com esse acontecimento, e tal. Assim que começamos, eles sugeriam para dois deles simularem um casamento gay. Concordei. A noiva não seria mais eu. E sim, haveria a simulação de um casamento entre dois dos presos ali presentes.

No início, foi aquela confusão. Na verdade, percebi que o tema despertou neles uma repúdia de imediato. Quando eu propus o tema, percebi em seus olhares um desgosto. Mas é algo a ser discutido e questionado para ser respeitado em suas diferenças.
A minha proposta era separar a turma inteira em dois grupos: um grupo que defendia a união entre pessoas do mesmo sexo, e o outro, o que repudia tais relações. Separei os grupos; mas com o prosseguir da dinâmica, percebi que ambos os grupos estavam totalmente contra qualquer relação entre duas pessoas do mesmo sexo. Toda a dinâmica não podia continuar pelo preconceito presente. Citaram a Bíblia, Maomé, Cristo e o diabo.

Eu escutei tudo com calma e depois, comecei a colocar outro ponto de vista. O ponto de vista do respeito ao outro, do direito à liberdade, da igualdade. E pelos citados religiosos, falei do não julgamento do irmão, do que Jesus nos mostrou em sua visita à terra, do livre arbítrio. Falei ainda mais, mas que também não convém contar aqui. Espero que eles tenham entendido. Porque uma média de 1.000 homossexuais foram assassinados por simplesmente serem como são no ano de 2010.  Espero que eles realmente tenham entendido, assim como todos nós. Porque a igualdade presumida na Lei, na Bíblia ou onde quer que seja, torna-se distante quando o egoísmo humano aflora.

Rosa Pinheiro

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