quarta-feira, 19 de outubro de 2011

1 ano de vida e de cadeia.

No dia 14 de outubro de 2011, o Projeto Fazer Direito completou um ano de sua existência.

O projeto nasceu como uma ação amadora de 4 estudantes universitários do curso de Direito - Samuel, Géssyca, Pedro e eu, Rosa - na utopia de fazer a verdadeira diferença na realidade prisional.

E ninguém acreditava quando nasceu. Nós mesmos não sabíamos por onde começar ou como desenvolver um projeto de função social tão árdua e complexa. 

Eu não saberia explicar como chegamos aqui; mas sei que ouvi muitos profissionais, conversei com vários presos, errei, errei novamente, consertei tais erros e não deixei escapar nenhuma oportunidade.

Com direito à bolo e refrigerante, nos reunimos no aniversário do projeto e foi muito bonito ver uma mesa de 10 lugares totalmente preenchida, a contar que são apenas os voluntários que lecionam na CPPL II. No IPPOO II, após um convênio com a Estácio FIC, alunos da referida faculdade realizam as atividades programadas, somados, apenas na área de Direito, em 14 estudantes universitários. Professores e coordenadores da mesma faculdade estão nessa caminhada também, inclusive alunos e profissionais das áreas de Administração, Psicologia e Artes Cênicas.

Fora crescendo com a ajuda de profissionais e de pessoas da sociedade que acreditaram que o nosso trabalho poderia contribuir para um Sistema Penitenciário mais humano e ressocializador. A dedicação de cada estudante da Estácio FIC, da UNIFOR e da UFC, é o que mantém o crescimento do mesmo. 

Em continuidade, está se reproduzindo nas unidades prisionais e nas diversas instituições de ensino onde levo um pouco da minha experiência e do que vejo no mundo encarcerado. Está em reprodução, ainda, para a sociedade, a fim de esclarecer sobre a importância de ações positivas nesse espaço e da mudança de mentalidade necessária a respeito do homem preso e do egresso.

Estamos colhendo os frutos: quando percebemos uma visão de respeito ao próximo, de aprendizado jurídico e de sensibilidade dos internos que participam do Projeto; quando vemos, nos olhos marejados de lágrimas a humanidade que grita alto, que pede por uma chance de fazer o correto; quando o homem, que está sem sua liberdade, diz que só quer ver a família e ter uma vida digna para nunca mais viver naquele inferno; quando nos agradecem pelo trabalho e pela oportunidade de ser visto. Estamos colhendo os frutos...quando recebemos, como presente, um porta-retrato em formato de coração ou uma caxinha com laços que fizeram com as próprias mãos e com palitos de picolé entregues com uma carta de agradecimento. E, enfim, quando os ex-presidiários, se despedem de nós, do cárcere e, definitivamente, do crime. Salvando a nós todos do caos... 
E continuamos a colher: quando os estudantes universitários me dizem "que não era como parece ser, eles são receptivos e cheios de boas ideias" ou " eu entrei na sala para conversar com os presos e percebi que não estava mais com medo, porque eles me fizeram sentir assim". Quando trocam opiniões, experiências, sonhos e decepções, no meio da aula, em um diálogo de praça. Ou, quando, esses estudantes me agradecem pela oportunidade de finalmente conhecer aquilo que apenas ouviam falar.

E ainda há muitos frutos para colher...

Envelhecendo?! Ganhara experiência, moldou-se de acordo com as novas circunstâncias e ganhou  maturidade em seus objetivos, ideologia e foco nos resultados. Mas, permanece na intensa vontade de transformação! E com a audácia dos novos!

Morrer, morrer...Jamais!

Será um ciclo da vida diferente, onde o sonho não morre, onde sempre haverá juventude participando ativamente, onde a "vontade" e a "necessidade" estão aliadas ao "fazer" e ao "acontecer". Não há morte, porque levaremos o que vivemos em nós até...o infinito! 

P.S.: Matéria sobre o projeto: http://www.sejus.ce.gov.br/index.php/listanoticias/14-lista-de-noticias/843-programa-ensina-nocoes-de-direitos-aos-detentos?ref=nf


Rosa Pinheiro
(Coordenadora do Projeto Fazer Direito)

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