sábado, 2 de julho de 2011

Um amor entre grades; e grades entre um amor


Era mais uma sexta-feira, mais um término de aula do projeto. As portas se trancavam atrás de mim e eu caminhava pelo corredor que liga à saída do lugar. Penso, sempre que faço tal trajeto, como os que ficam trancados gostariam de fazê-lo. Porque preso só fala em liberdade. E nós, aqui fora, será que a sentimos?
Ao lado do posto dos Agentes Penitenciários, havia um detento, que me era conhecido, e sua visita. Era uma mulher alta, de cabelos castanhos e de olhar firme. Ele é baixo, careca e de cavanhaque; sempre simpático. Estavam sentados; ambos virados um para o outro, dividindo carícias. Em um banco de praça, romântico seria, mas as grades e as muitas algemas que estavam ao lado do casal me impediam qualquer devaneio sobre o amor.
Ele me chamou e me apresentou à mulher: sua esposa. Ele falou sobre a sua ânsia pela liberdade, do sofrimento de estar preso, da saudade da família e de suas 4 filhas. Falou que nunca soube o que era sentir o amor de uma família e que agora queria desfrutá-lo.
Eu e a sua esposa, falamos como o crime não compensa e sobre a paciência; porque há tempo para tudo. Até mesmo para quem está preso.
A conversa parecia rotineira. Porque muito já ouvi dos internos e seus familiares das dores, sofrimentos e angústias que uma prisão trás. A dor que o crime carrega consigo arrasta uma multidão de lamúrias e vítimas. O culpado, a família do dito, a vítima, a família da vítima e eu e você. É mole?
Até que eles me falaram como se conheceram. Não foi na balada, não eram primos, não foi por um amigo de um amigo, nem no trânsito. Não foi nada comum. Ele, agente ativo, fora aplicar um golpe nela, sujeito passivo. Depois, se apaixonaram e ela se mudou de Alagoas para Fortaleza para formarem uma família. Fim.
E agora, um trecho de uma música do Renato Russo me veio em encaixe: "E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?"

Rosa Pinheiro
(Coordenadora do Projeto Fazer Direito)






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